Os casos de estupro e estupro de vulnerável cresceram de forma expressiva na região de Presidente Prudente nos primeiros cinco meses de 2025. Entre janeiro e maio, foram registrados 189 boletins de ocorrência, número que representa o maior índice da última década para o mesmo período, segundo dados da Secretaria de Segurança Pública.
Em comparação com os últimos anos, o aumento fica ainda mais evidente: em 2016 foram registrados 111 casos no mesmo período; em 2019, 148; em 2020, ano da pandemia, houve uma queda para 110 casos; já em 2021, o número subiu para 137; no ano passado foram 165 ocorrências — e agora, em 2025, o índice chegou a 189.
Embora esses números sejam alarmantes, especialistas avaliam que esse crescimento pode estar relacionado a fatores positivos, como o fortalecimento da legislação e o aumento da conscientização entre as vítimas para denunciar os abusos.
De acordo com a advogada criminalista Viviane Monteiro, a reforma do Código Penal em 2009 trouxe mais robustez à legislação, ampliando a proteção jurídica às vítimas de estupro. “Antes da mudança, apenas a conjunção carnal era considerada estupro e apenas mulheres podiam ser vítimas. Com a nova redação, o conceito passou a englobar qualquer ato libidinoso cometido sem consentimento, como toques, beijos forçados e outras formas de violência sexual. Essa alteração deu maior segurança jurídica, permitindo que os casos sejam melhor enquadrados e punidos com mais rigor, além de facilitar a denúncia e o acolhimento das vítimas”, explica.
Outro fator apontado é a coragem crescente das vítimas em procurar a polícia. Para a psicóloga Maria Inês Medeiros, essa mudança cultural é um avanço importante. “Hoje, muitas mulheres se sentem mais ouvidas. Só o fato de elas conseguirem chegar até uma delegacia e registrar a ocorrência já é um ganho significativo. Estamos falando de um processo doloroso, que exige força emocional e apoio institucional”, afirma.
Um aspecto que chama a atenção nos casos registrados é que, muitas vezes, o agressor não é um desconhecido, mas alguém próximo da vítima — o que torna a denúncia ainda mais difícil. “O julgamento social ainda é um peso enorme para essas mulheres, principalmente quando o agressor faz parte do círculo familiar ou afetivo. Isso aumenta o medo e a sensação de insegurança”, completa a psicóloga.
Apesar dos avanços, os especialistas ressaltam a necessidade de políticas públicas mais efetivas, campanhas de prevenção e um atendimento mais humanizado nas delegacias especializadas.
A escalada dos números é, ao mesmo tempo, um alerta e um sinal de que o silêncio está sendo quebrado. E que, com o suporte adequado, cada vez mais vítimas têm encontrado coragem para denunciar — e buscar justiça.