Instalado temporariamente em Regente Feijó, o Circo Brothers não leva apenas espetáculo e encantamento a cada cidade por onde passa — ele carrega nas lonas uma história de superação, amor pela arte e resistência de uma família inteira. Há quatro décadas na estrada, o circo é hoje liderado por Elton Rodrigo Martins Silva, que nasceu e cresceu no picadeiro, e hoje vê seus filhos e esposa dividirem com ele a missão de manter vivo um dos ofícios mais antigos e simbólicos da cultura popular.
“Estamos nessa vida há 40 anos. Às vezes ficamos só um final de semana em uma cidade, outras vezes conseguimos prolongar um pouco mais a estadia. A verdade é que é uma luta diária”, conta Elton, com a voz embargada, mas firme na paixão pelo ofício.
No circo, todo mundo faz tudo. Antes do espetáculo, tem o preparo dos doces, a compra dos brinquedos, a arrumação das cadeiras, a divulgação pelas ruas. O trabalho não para. E mesmo com todo o esforço, nem sempre o retorno vem. “Na segunda-feira, abrimos o espetáculo e não tinha ninguém. As cadeiras vazias doem na alma, porque nosso maior gasto é emocional: é ver que fizemos de tudo e ainda assim o público não veio”, desabafa.
Mas a dor nunca supera o amor. Para quem vive do circo, a missão vai além de entreter. O circo é escola, é casa, é família — e, muitas vezes, é a única alternativa de sustento. Os filhos de Elton e outras crianças da trupe seguem os estudos nas cidades onde se instalam temporariamente. “Toda cidade é uma nova adaptação. Procuramos escolas, e graças a Deus encontramos muita compreensão. As crianças fazem amizades, aprendem e seguem em frente”, explica.
Essas amizades também criam laços. Crianças das cidades por onde o circo passa se encantam com os artistas mirins, querem conhecer o funcionamento por dentro, e se emocionam com as despedidas. “É um apego que fica. Quando vamos embora, deixamos saudade. E isso mostra que estamos marcando vidas.”
Mesmo com o impacto social e o valor cultural que o circo carrega, as dificuldades com o poder público ainda são um obstáculo constante. “Tem cidades que cedem o espaço gratuitamente, outras cobram até demais. A gente não se recusa a pagar, mas queremos, pelo menos, condições justas. O que pedimos é dignidade”, apela o proprietário.
Além dos espetáculos, o Circo Brothers também realiza ações sociais, arrecadando alimentos e promovendo atividades voltadas à comunidade — especialmente às crianças. “A gente quer mais do que vender ingresso. Queremos tocar corações, levar esperança. Mas pra isso, precisamos de apoio”, finaliza Elton.
No último dia de apresentações do Circo Brothers em Regente Feijó é um convite à reflexão: o quanto estamos dispostos a valorizar quem leva a magia do sorriso, mesmo sem garantias de que haverá público!